Por José Padilha, O Globo
1. Na base do sistema político brasileiro opera um mecanismo de exploração
da sociedade por quadrilhas formadas por fornecedores do estado e grandes
partidos políticos.
2. O mecanismo opera em todas as esferas do setor público: no legislativo,
no executivo, no governo federal, nos estados e nos municípios.
3. No executivo ele opera via o superfaturamento de obras e de serviços
prestados ao estado e as empresas estatais.
4. No legislativo ele opera via a formulação de legislações que dão
vantagens indevidas a grupos empresariais dispostos a pagar por elas.
5. O mecanismo existe a revelia da ideologia.
6. O mecanismo viabilizou a eleição de todos os governos brasileiros desde
a retomada das eleições diretas, sejam eles de esquerda ou de direita.
7. Foi o mecanismo quem elegeu o PMDB, o DEM, o PSDB e o PT e quem elegeu
todos os Presidentes da República desde o fim do regime militar.
8. No sistema político brasileiro a ideologia está limitada pelo mecanismo:
ela pode balizar políticas públicas, mas somente quando estas políticas não
interferem com o funcionamento do mecanismo.
9. O mecanismo opera uma seleção: políticos que não aderem a ele tem poucos
recursos para fazer campanhas eleitorais e raramente são eleitos.
10. A seleção operada pelo mecanismo é ética e moral: políticos que tem
valores incompatíveis com a corrupção tendem a serem eliminados do sistema político
brasileiro pelo mecanismo.
11. O mecanismo impõe uma barreira para a entrada de pessoas inteligentes e
honestas na política nacional, posto que as pessoas inteligentes entendem como
ele funciona e as pessoas honestas não o aceitam.
12. A maioria dos políticos brasileiros tem baixos padrões morais e éticos.
(Não se sabe se isto decorre do mecanismo, ou se o mecanismo decorre disto.
Sabe-se, todavia, que na vigência do mecanismo este sempre será o caso.)
13. A administração pública brasileira se constitui a partir de acordos
relativos a repartição dos recursos desviados pelo mecanismo.
14. Um político que chega ao poder pode fazer mudanças administrativas no
país, mas somente quando estas mudanças não colocam em cheque o funcionamento
do mecanismo.
15. Um político honesto que porventura chegue ao poder e tente fazer
mudanças administrativas e legais que vão contra o mecanismo terá contra ele a
maioria dos membros da sua classe.
16. A eficiência e a transparência estão em contradição com o mecanismo.
17. Resulta daí que na vigência do mecanismo o estado brasileiro jamais
poderá ser eficiente no controle dos gastos públicos.
18. As políticas econômicas e as práticas administrativas que levam ao
crescimento econômico sustentável são, portanto, incompatíveis com o mecanismo,
que tende a gerar um estado cronicamente deficitário.
19. Embora o mecanismo não possa conviver com um estado eficiente, ele
também não pode deixar o estado falir. Se o estado falir o mecanismo morre.
(Definição pura e simples de parasita - o povo é parasitado por
políticos, empreteiros e amigos do rei que farão de tudo para continuar sugando
o que for possível do Estado que tira seus recursos dos impostos)
20. A combinação destes dois fatores faz com que a economia brasileira tenha
períodos de crescimento baixos, seguidos de crise fiscal, seguidos ajustes que
visam conter os gastos públicos, seguidos de novos períodos de crescimento
baixo, seguidos de nova crise fiscal.
21. Como as leis são feitas por congressistas corruptos, e os magistrados
das cortes superiores são indicados por políticos eleitos pelo mecanismo, é
natural que tanto a lei quanto os magistrados das instâncias superiores tendam
a ser lenientes com a corrupção. (Pense no foro privilegiado. Pense no fato de
que apesar de mais de 500 parlamentares terem sido investigados pelo STF desde
1998, a primeira condenação só tenha ocorrido em 2010.)
22. A operação Lava-Jato só foi possível por causa de uma conjunção
improvável de fatores: um governo extremamente incompetente e fragilizado
diante da derrocada econômica que causou, uma bobeada do parlamento que não
percebeu que a legislação que operacionalizou a delação premiada era
incompatível com o mecanismo, e o fato de que uma investigação potencialmente
explosiva caiu nas mãos de uma equipe de investigadores, procuradores e de
juízes rígida, competente e com bastante sorte.
23. Não é certo que a Lava-Jato vai promover o desmonte do mecanismo. As
forças políticas e jurídicas contrárias são significativas.
24. O Brasil atual está sendo administrado por um grupo de políticos
especializados em operar o mecanismo, e que quer mantê-lo funcionando.
25. O desmonte definitivo do mecanismo é mais importante para o Brasil do
que a estabilidade econômica de curto prazo.
26. Sem forte mobilização popular é improvável que a Lava-Jato promova o
desmonte do mecanismo.
27. Se o desmonte do mecanismo não decorrer da Lava-Jato, os políticos vão
alterar a lei, e o Brasil terá que conviver com o mecanismo por um longo tempo.
* Malcyn Dukya é Engenheiro Mecânico e Engenheiro Industrial, Administrador de Empresas, MBA em Gestão Governamental e Ciência Política, Especialista em Informática, ex Coordenador Geral de Modernização e Tecnologia nos Ministérios da Justiça e do Trabalho e Emprego, pesquisador autodidata em Nutrologia e Nutrição Esportiva, História e Sociologia, Músico Amador, Meio-Maratonista, ex Diretor de Auditoria Legislativa e ex Presidente de Processos Disciplinares na Administração Federal Brasileira, M∴M∴
* Malcyn Dukya é Engenheiro Mecânico e Engenheiro Industrial, Administrador de Empresas, MBA em Gestão Governamental e Ciência Política, Especialista em Informática, ex Coordenador Geral de Modernização e Tecnologia nos Ministérios da Justiça e do Trabalho e Emprego, pesquisador autodidata em Nutrologia e Nutrição Esportiva, História e Sociologia, Músico Amador, Meio-Maratonista, ex Diretor de Auditoria Legislativa e ex Presidente de Processos Disciplinares na Administração Federal Brasileira, M∴M∴
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