Lactose
é insumo ou matéria prima essencial para a moderna indústria química, farmacêutica e de
cosméticos.
Com
tanto leite sem lactose sendo vendido nos supermercados, muitas pessoas devem
se perguntar:
- Para onde vai a Lactose retirada desse leite?
Retirada
do leite por meio de processo industrial de desidratação do soro, a Lactose
passa por um processo de cristalização para aumentar a sua estabilidade química e reduzir custos
de transporte. Em seguida, é oferecida a um amplo mercado, disposto a pagar bem por ela.
Numa escala menor, é vendida a padarias, sorveterias e pequenos laboratórios, como por exemplo:
Numa escala menor, é vendida a padarias, sorveterias e pequenos laboratórios, como por exemplo:
1)
Adicionada em pães e recheios, sorvetes, farinhas, alimentos enlatados e
produtos lácteos (queijo, iogurte), para conferir textura e paladar mais
agradável, permitir a fixação de cor mais intensa e controlar a quantidade de
água contida nesses alimentos;
2)
Na fermentação de produtos lácteos concentrados e congelados, para preservar a
estrutura molecular, evitando alterações indesejáveis de sabor, de textura e de
cor induzidas pelas variações de temperatura (Fox & Mc Sweeney, 1998).
3)
Em diversos produtos farmacêuticos, para proporcionar suprimento de energia
necessária ao desenvolvimento do sistema nervoso central, facilitar a absorção
de cálcio, fósforo e vitamina D; favorecendo a retenção de cálcio e prevenindo
a osteoporose (Mattar & Mazo, 2010; Camelo Junior et al 2011).
No
entanto, isso é apenas a ponta do iceberg. O consumo de lactose e de seus derivados pela indústria vem crescendo fortemente desde a
década de 60, ultrapassando atualmente os
milhões de tonelada anuais. Seus principais derivados são utilizados em alta escala como matéria-prima/insumo na fabricação de uma infinidade de produtos, especialmente nas indústrias química,
farmacêutica, cosmética e de alimentos.
A seguir, exemplos da utilização de alguns desses derivados (Ressalte-se que estes produtos são derivados exclusivamente da lactose).
Carregamento de Lactose para a China |
Algumas aplicações de
derivados da Lactose na indústria
1) Ácido Lactobiônico (ácido galacto-glucônico):
a) Na
fabricação de detergentes de louças e sabão em pó para uso doméstico, pelas
suas propriedades emulsionante, estabilizante de espuma e alta solubilidade em
água;
b) Na
fabricação de fluidos conservantes de órgãos transplantados, devido à ação
antioxidante capaz de inibir ou retardar a oxidação por inativação de radicais
livres sobre o tecido armazenado;
c) Em
formulações para vetorização de drogas (estratégia terapêutica que consiste na
liberação do fármaco nas células, tecidos ou
órgãos), aumentando a eficácia terapêutica de medicamentos e reduzindo a
toxicidade e a restrição ao tecido lesado;
d) Como
conjugado à quitosana hidrossolúvel com o objetivo de atingir a
hepatócito-seletividade;
e) Como
substituto do fosfato na alimentação;
f) Na
fabricação de cosméticos dermatológicos, devido à ação hidratante,
antienvelhecimento, anti-fotoenvelhecimento e rejuvenescedora da Lactona (sub-produto do processo industrial de produção do Ácido Lactobiônico);
g) Na
fabricação de produtos antiacneicos (contra espinhas), produtos farmacêuticos
cicatrizantes e produtos para peles sensíveis, devido à ação cicatrizante do
Ácido Lactobiônico (Nardin & Guiterres, 1999).
2) Lactitol:
a) É um
edulcorante cujo valor calórico é de apenas 2,4kcal/g, largamente usado pela indústria
farmacêutica e alimentícia na produção de adoçantes dietéticos e produtos
alimentícios e medicinais destinados a diabéticos e obesos (Timmermans,1997);
b) Na
fabricação de chicletes, biscoitos, bolos, produtos forneados e produtos
lácteos, em decorrência de sua estabilidade, solubilidade, higroscopicidade e
gosto similar ao do açúcar comum;
c) Na
indústria de produtos dentais, por ser considerado um adoçante não cariogênico,
uma vez que não é metabolizado pelas bactérias da boca, por isso provoca a
liberação de ácidos corrosivos ao esmalte dos dentes;
d) Na
fabricação de medicamentos e produtos dietéticos destinados a promover o
aumento de bifidobacterias ativas no colón intestinal, na cura de diversas
doenças relacionadas, uma vez que ao ser metabolizado, reduz o pH intestinal,
restringindo o crescimento de vários patógenos e bactérias putrefativas e
nocivas (Playne et al. - 2003);
e) Na
fabricação de fármacos e produtos medicinais laxantes osmóticos em decorrencia
de sua metabolização produzir ácidos carbônicos com poucos carbonos na cadeia,
tais como: os ácidos láctico, butírico, propiônico e acético, aumenta a
osmolaridade da região intestinal, provocando aumento do bolo fecal.
3) Lactases (Hidrolases ou β –Galactosidases)
a) Na
produção industrial de fármacos e produtos laticínios cuja ação metabólica
catalisa os resíduos nocivos de outros alimentos no trato intestinal, transformando-os
em glicose e galactose, reduzindo assim os efeitos de intolerância alimentar (Husain,
2010);
b) Como
aditivo a produtos lácteos destinados a consumidores com intolerância à
proteína do leite e à Lactose, pois melhora a solubilidade e a digestibilidade
do leite e derivados.
c) Como
aditivos destinados a prevenir a cristalização da lactose em produtos lácteos
tais como doce de leite, leite condensado, leite concentrado congelado,
misturas para sorvetes e iogurtes, além de melhorar as características
sensoriais e de textura desses alimentos;
d) Oferecida
livremente em países como o Japão na forma de mistura, contendo
oligossacarídeos, lactose, glicose e galactose, no estado líquido ou em pó, é
usada pelas indústrias de laticínio com objetivo estabilizar a lactase no
intestino humano, influenciando beneficamente a saúde e a capacidade digestiva
das pessoas, sendo, por isso denominado fator de crescimento Bifidus (Tomal et
al. 2010);
4) Lactosacarose:
a) Usada
em alta escala pela indústria dietética mundial,
devido à rápida absorção metabólica (cerca de 3 vezes maior que da sacarose), é
um açúcar de baixo teor de conversão em gordura corporal, além de estimular o
crescimento seletivo de bifidobacterias no intestino humano (Ikegaki &
Park, 1997).
b) Na
forma de β-frutofuranosidase (subproduto da lactosacarose), é usada em
catalisadores destinados a hidrolisar a sacarose em glicose e frutose, que propiciam a transformação química dos resíduos de frutosil proveniente da sacarose (Ikegaki & Park, 1997).
5) Acido láctico (ácido 2-hidroxipropanóico ou ácido
β-hidroxipropanóico):
a) Largamente usado em vários setores industriais, como alimentício,
farmacêutico, cosmético, químico e têxtil, o ácido láctico e seus
derivados (sais de sódio, potássio e de cálcio) apresentam inúmeras funções,
incluindo o uso como acidulante, regulador de acidez, umectante, antioxidante,
agente de corpo ou massa, melhorador de farinha na produção de produtos de
panificação, etc;
b) Usado como conservante na fabricação industrial de bebidas (cerveja, vinho, sucos de frutas), bem como de alimentos em conservas (azeitonas, palmito, repolho, pepino, etc...), nos quais promove também a melhoria do sabor e a clarificação da salmoura;
c) Usado
como descontaminante e conservante na indústria de carnes, aves e carcaças
suínas, destinado a reduzir a infecção por Salmonella e a contaminação por E.
coli, dentre outros (Vijayakumar et al., 2008);
d) Na
fabricação de cosméticos como hidratante e regulador de pH, assim como em
produtos destinados ao clareamento e hidratação da pele, além da atividade
antimicrobiana;
e) Os
derivados de ácido láctico, como os ésteres de ácido lático com alcoóis
alifáticos de cadeia longa são usados como emulsificantes e estabilizantes em
produtos de higiene pessoal;
f) Na
indústria química, o ácido láctico apresenta inúmeras aplicações como
matéria-prima na obtenção de óxido de propileno, acetaldeído, ácido acrílico,
PLA, ácido propanoico, enquanto;
g) no
setor têxtil, o ácido láctico é usado no curtimento e acabamento têxtil
incluindo: o tingimento da seda, na descalcificação de vegetais, como
neutralizador, agente regulador de pH.
6) Polilactatos (PLA)
a) Na
fabricação de embalagens de plástico biodegradável, reciclável, bioabsorvível e
compostável, transparente, assim como para demais polímeros que exijam capacidade de
biocompatibilidade (Drumond et al.,2007);
b) Na
fabricação de de fibras e têxtil, agricultura, eletrônicos e produção de
aparelhos e aparatos eletrônicos domésticos;
c) Na
indústria médica e de engenharia de tecidos e implantes ósseos, devido à
possibilidade de serem utilizados em implantes temporários, devido à sua
capacidade bioabsorvível e, à medida que se degrada transfere a tensão
gradualmente para o osso em cicatrização, o que elimina a necessidade de uma
segunda cirurgia para retirada do implante, fatos que promovem melhor
recuperação do paciente e reduzem custos com o tratamento (Rezende &
Duek, 2003);
d) Pela
sua capacidade de biodegradação, o seu uso industrial tende a aumentar em
escala geométrica, devido às crescentes preocupações ambientais e sustentáveis
em relação aos polímeros petroquímicos convencionais, não obstante as
dificuldades da indústria em viabilizar o aumento da escala de produção e disponibilidade
de matéria-prima (Lactose);
Conclusão:
A
demanda da indústria por derivados da Lactose vem crescendo em escala
geométrica nos últimos anos, coincidentemente com o crescimento da campanha que
divulga o mito da Intolerância à Lactose. Isso se dá, sobretudo, devido ao
interesse da indústria em atender a um mercado crescente que requer, como
insumo ou matéria prima, derivados da Lactose, quais sejam:
1) As preocupações ambientais que induzem à demanda
de Polilactatos para produzir produtos biodegradáveis;
2) O interesse da indústria médica por materiais auto absorvíveis,
cuja produção necessita de Polilactatos;
3) A procura maior por alimentos de baixo teor calórico
que requer o uso de Lactitol e
Lactosacarose para produzir alimentos e medicação dietética;
4) A intenção da indústria farmacêutica e de cosméticos em
melhorar a qualidade de seus produtos, para o que necessita de
Ácido Lactobiônico e Acido láctico.
Todos
esses segmentos industriais utilizam como insumo ou matéria prima produtos derivados da
Lactose. Por isso, a campanha de demonização do Leite e da Lactose, como forma
de afastar a população desses alimentos, reduzindo a sua demanda e, assim,
baixando os custos dessas matérias primas para essa indústria.
...
Marcio Almeida é Engenheiro Mecânico e Engenheiro Industrial, Administrador de Empresas, MBA em Gestão Governamental e Ciência Política, Especialista em Informática, Especialista em Direito Administrativo Disciplinar, ex Diretor de Auditoria Legislativa e ex Presidente de Processos Disciplinares na Administração Federal Brasileira, Diplomado da Escola Superior de Guerra, M∴M∴, Escritor, Músico Amador, Meio-Maratonista, pesquisador autodidata em Nutrologia e Nutrição Esportiva, História e Sociologia.
Fontes:
http://revistalaticinios.com.br/wp-content/uploads/2011/09/10-Fazer-Melhor-104.pdf
http://www.igastroped.com.br/areas-de-atuacao/intolerancia-a-lactose/intolerancia-a-lactose-mitos-e-realidade/
http://www.enxaqueca.com.br/blog/queijo-sem-enxaqueca/
http://www.saocamilo-sp.br/novo/noticias/maioria-das-alergias-alimentares-e-mito.php
http://www.ecologiamedica.net/2015/09/leite-mitos.html?m=1
http://pt.scribd.com/doc/119915355/Lactose#scribd
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