sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Automóveis: Avaliação Comparativa - Obsolescência Programada.


Assim como qualquer bem durável, a aquisição de um automóvel para uso próprio requer uma boa avaliação das opções disponíveis no mercado, uma vez que na maioria dos casos trata-se de um investimento que consome as economias de vários anos. Portanto, na hora da compra não se pode ignorar os aspectos relacionados à qualidade e à durabilidade do produto.

Porém, há alguns desses aspectos que deveriam ser avaliadas, mas que não são divulgados, nem sequer são mencionados nos comerciais veiculados na mídia, pois revelam características técnicas essenciais inerentes ao produto que, em última análise, poderiam servir para desqualificá-lo. Entretanto, o desconhecimento desses aspectos pode levar o consumidor a interpretações equivocadas, conforme veremos a seguir.

A maioria dos fabricantes limita-se a anunciar os atributos explícitos do veículo; aqueles que são mais visíveis e palpáveis, tais como os recursos eletrônicos e controles informatizados, freios a disco com ABS, "air bags", etc, etc... 

Porém, esses itens estão presentes em praticamente todos os modelos luxo e médio-luxo, por isso não são parâmetros suficientes para permitir uma comparação e uma escolha bem fundamentadas.

Algumas montadoras anunciam também a potência do motor como um diferencial do seu produto. Porém, este é um dado que pode iludir mais do que orientar o consumidor, se não for avaliado simultaneamente ao peso do veículo, à capacidade de giro do motor (RPM) e, sobretudo, ao torque do sistema de transmissão (leiam AQUI).
Na verdade a potência efetiva (potência útil) de um veículo é sua a capacidade de acelerar e de retomar velocidades no menor intervalo de tempo. Este fator, vulgarmente chamado de desempenho, é resultado da combinação das três variáveis acima citadas: potência nominal do motor, capacidade de giro e torque (também conhecido como binário). Essa combinação trará maior ou menor resultado, conforme for o peso do carro (leiam AQUI).

Um simples exemplo prático mostra como a combinação dessas variáveis influenciam no desempenho final do veículo. Alguns tratores e caminhões fora de estrada são equipados com motores com fabulosos 800, 1.000 ou 2.000 CV de potência nominal, nem por isso conseguem atingir velocidade além de 30 Km/h, tampouco oferecem qualquer condição de segurança ou conforto numa pista de rolamento. Isto por que o torque do sistema de transmissão é baixo e o motor não é projetado para atingir altas rotações.

Voltando aos atributos dos automóveis que nunca são divulgados pela mídia, o mais importante deles é justamente o fator que determina a vida útil e o grau de confiabilidade do veículo, de seus componentes e de suas funcionalidades. Trata-se de um conceito da Engenharia denominado "Obsolescência Programada", também conhecida como "Obsolescência Planejada".

A aplicação desse conceito está presente em todas as fases de produção de qualquer projeto industrial, desde a concepção, desenvolvimento e elaboração desse projeto, passando por todas as etapas de fabricação, montagem e acabamento, comercialização e assistência técnica. É um fator determinante, inclusive na definição das políticas e estratégias de marketing e de gestão dos negócios da empresa.

Os parâmetros da Obsolescência Programada é que vão determinar se o produto será construído para funcionar plenamente por um, dez ou duzentos anos. E isso faz toda a diferença na hora de se definir quais os materiais e componentes serão utilizados, qual a tecnologia será aplicada, quais os equipamentos e processos de fabricação serão adotados e, sobretudo, quais os níveis de capacitação e de experiência profissional devem possuir os cientistas, engenheiros, técnicos e operários que trabalharão no projeto.

Adicione a isso o "know how" tecnológico acumulado e aperfeiçoado pela empresa ao longo dos anos e, então, terá elementos para avaliar, não só a qualidade de acabamento e a durabilidade do produto, mas também a segurança, o conforto e o desempenho

Essa é uma análise fundamental, especialmente em se tratando de automóveis, uma vez que uma poderosa indústria incipiente vem inundando o mercado com novas marcas e modelos a cada dois ou três meses.

Apenas para se ter uma idéia dos resultados da combinação desses parâmetros, cite-se, por exemplo, os casos dos automóveis Bentley, Rolls Royce (ou Phantom) que, sem dúvida, podem durar pelo menos 200 anos e rodar vários milhões de quilômetros, antes que alguma forração desencaixe, antes que alguma peça relaxe e solte ou que algum ruído comece a ser ouvido no painel. Tanto é que estes fabricantes prestam assistência técnica e garantem seus produtos "ad eternum".

O nível de qualidade obtido é resultado direto da utilização de materiais, recursos e conhecimentos muito especiais. Basta dizer que cada peça é fabricada e montada a mão e que o controle de qualidade ao longo de todas as etapas de produção tem como principais "ferramentas" o tato, a visão, o olfato e a audição de técnicos altamente especializados, além de equipamentos e recursos tecnológicos de ponta.

Da mesma forma, os modelos luxo e médio-luxo das marcas alemãs Audi, BMW e Mercedes Benz são fabricados utilizando-se de recursos materiais, tecnologia e mão de obra que lhes asseguram vida útil de vinte, trinta ou cinqüenta anos, dependendo do modelo. São projetos cuja obsolescência programada de longo prazo proporciona nítidas diferenças em relação a tantos outros modelos que "virtualmente" apresentam itens e componentes equivalentes.

Um caso típico pode servir como exemplo: Eu mantive um Audi A4 ano 1996 por cerca de 19 anos, tendo rodado por mais de quinhentos mil quilômetros sem que o mesmo sequer queimasse uma lanterna, desencaixasse qualquer item da forração, revestimento, carpetes ou lataria. Além disso, manteve toda a sua estrutura intacta e as partes mecânicas em pleno funcionamento, à exceção de algumas poucas peças substituídas dentro da normalidade.

Depois desse tempo, ao compará-lo com um veículo zero quilômetro de porte equivalente (médio-luxo), fiquei surpreso ao constatar que o antigo Audi produzia menor nível de ruído em pavimentos irregulares (tipo paralelepípedo), ainda oferecia maior estabilidade em situações adversas (curvas, pistas molhadas e frenagens), além de consumir menos combustível e apresentar maior desempenho nas acelerações e retomadas.

A esta categoria encabeçada pela Audi, BMW e Mercedes, além algumas raras exceções, podem ser acrescentados os modelos luxo produzidos no Japão pela Honda e Toyota, o Acura e o Lexus, cujos motores têm obsolescência programada para algo em torno de cinco milhões de quilômetros, apesar dos respectivos acabamentos deixarem a desejar.

De resto, as várias marcas e modelos que são comercializados atualmente em grande escala ao redor do mundo, presumivelmente não apresentam tempo de obsolescência programada acima de três ou quatro anos, salvo raras exceções. Isto pode ser deduzido com base no tempo que cada modelo permanece em linha de produção. Ou seja, quando um projeto tem sua produção encerrada pode-se supor, por razões econômicas e de mercado, que os primeiros lotes produzidos já exauriram sua vida útil. Em outras palavras, se saiu de linha é porque o produto já atingiu a obsolescência programada.

Esta prática é notória, especialmente em relação às marcas coreanas Kia e Hyundai, assim como as francesas Citroen, Renault e Peugeot, além de outras, cuja política de produto consiste no lançamento de vários modelos que se sucedem num curto espaço de tempo, sendo que os modelos antecessores são praticamente esquecidos muito rapidamente. Algumas chegam a oferecer garantia de até seis anos, porém restrita a câmbio e bloco do motor - itens que se desgastam mais tardiamente, assim como fazem as marcas chinesas que não têm nenhuma tradição de qualidade. Contudo, não vale o risco.
Portanto, antes de se decidir pela compra de uma marca/modelo de carro zero quilômetro, procure um veículo usado da mesma marca/modelo que tenha, pelo menos, três ou quatro anos de uso e avalie o estado geral desse usado. Ou seja, veja como será o seu carro amanhã.
Caso não existam exemplares daquele modelo com mais de três ou quatro anos de uso, significa que o novo modelo desejado, muito provavelmente sairá de linha de produção muito em breve, pois se trata de produto cuja obsolescência programada é curta. Certamente a montadora desse veículo é uma daquelas que promove lançamentos de vários e sucessivos modelos a cada ano e isso não é por acaso! Trata-se da política da empresa e de uma estratégia de produto consolidada! Nesse caso, melhor desistir, a menos que queira comprar pra vender um ano depois.

Se um veículo de marca/modelo igual ao desejado, com três ou quatro anos de uso apresentar desgastes prematuros da estrutura de acabamento (desencaixe de forrações, revestimentos, carpetes, latarias, ferrugem, etc.), além de componentes elétricos e eletrônicos com problemas ou motor fumegando, da mesma forma, desista!

Diante da crescente lista de opções alternativas no mercado brasileiro, as marcas tradicionais são as que vêm oferecendo modelos com melhores condições de competição, sobretudo por causa do citado "know how" tecnológico acumulado e aperfeiçoado ao longo dos anos. Neste ranking considere-se a Volkswagen, a Ford, a Fiat e a Chevrolet, apesar das muitas ocorrências de problemas com carros novos da Chevrolet e apesar da fragilidade do acabamento da Ford, além da Honda que se instalou no país mais recentemente, porém vem apresentando modelos com acabamento razoável.

Contudo, cabe ressaltar que as marcas recém lançadas por empresas novatas, especialmente as asiáticas, além das francesas citadas, cujas campanhas publicitárias jogam pesado na tentativa de seduzir o cliente com um extenso varejo de componentes eletrônicos e com a idéia da novidade inédita a cada três ou seis meses, não são boas opções para quem pretende manter o carro por dois anos ou mais. Nestes casos, o risco de prejuízo é grande, especialmente se a aquisição pretendida for por meio de financiamento de longo prazo, pois o produto pode acabar antes das prestações.

Marcio Almeida é Engenheiro Mecânico e Engenheiro Industrial, Administrador de Empresas,.

Contribuíram:
Christiano Rodopoulos e Arthur Phillipe.

3 comentários:

KGB disse...

Caro Márcio,
Interessante. Pode servir de alerta aos dasavisados.
Quanto a mim, burros na sombra, nem pensar! Carro novo, menos ainda! Quero é discutir a obsolescência programada. Pelo seu lado abusivo e recôndito. Manobra explícita do capitalismo para não interromper a engrenagem de vendas. Ainda assim, escancara-se o sistema capitalista sendo engolido por si mesmo.
A atual crise mundial nada mais é senão o vácuo - as vendas despencaram - que os donos do capital estão adentrando: sem emprego, nada de vendas. Europa, Japão e USA estão saturados de consumo. A China não compra. Quer vender. Restaram os países em desenvolvimento (Brics) que também já consumiram à exaustão (de eletrodomésticos a automóveis e moradias - sempre se endividando). Para os carros, sequer temos vias decentes. As metrópoles estão sendo cimentadas por veículos particulares, enquanto o transporte público vegeta. Em breve, nem saíremos das nossas garagens.
A obsolescência programada, no caso, entra como salvaguarda de vendas. Observe-se que prestação de serviços de consertos está em baixa. Melhor descartar do que consertar. Não obstante, você chame a atenção para os bons projetos e o know how, há que se considerar a negatividade desse processo quando o mesmo visa à fabricação de produtos cuja duração é propositalmente exígua: rápido descarte e nova aquisição. Benefícios ininterruptos para o capital. Danos intermitentes para o consumidor, sociedade e mundo.
Pois bem. Percorrendo lá aquelas teorias conspiratórias das ações terroristas, encontramos ótima elucidação para os atos invasivos dos USA e blocos aliados da Europa no "combate" aos ditadores e aos supostos "responsáveis" pelos ataques. Ora, após a derrubada de regimes autoritários no Oriente Médio e outras freguesias, o que querem os donos do capital? Impor a própria ditadura de consumo a um mercado promissor - nunca pôde consumir, uma vez que os lucros do petróleo sempre ficaram nas mãos dos líderes combatidos. A população permaneceu comendo, bebendo, morando e vestindo doutrinas religiosas.
Márcio, essa história de combater terrorismo e ditaduras nada tem a ver com petróleo. Quem quer tecnologias cujo combustível é o petróleo, quando as pesquisas avançam bravamente sobre fontes limpas de energia? E esse papo de Pré-sal? Quê mercado vai querer tanto petróleo daqui a 10 anos? Papo de aranha de governo populista e demagógico. Em suma:
1. O capitalismo está despencando, num ato arbitrário de canibalismo. Não tem emprego, não vende.

2. A conscientização pelo não consumo nos países desenvolvidos pegou feio.

3. A obsolescência programada gera endividamento, já que novas aquisições colocam salários em xeque (não é em cheque!).

4. Vai demorar muito até que os nichos invadidos pelos USA e blocos da EUROPA consigam impor a "liberdade", diga-se, a "liberdade de consumo" (coisa americana: liberdade para consumir, american dream, american way of life - pura bobajada para alienados e nacionalistas).

5. E, pra falar a verdade, até mesmo os americanos bobões, incautos e incultos começam a despertar para o embuste de que têm sido vítimas. Muitas manifestações em Wall Street. Obama não perdeu tempo. Já inventou (anteontem!) outra suspeita de terrorismo que adviria do Irã. Governos americanos utilizam in continuum atos supostamente heróicos para persuadir sua trupe. Nos filmes, salvam-nos de choques de meteoros, tsunamis, alienígenas, terremotos, etc. Na vida (i)real, protegem-nos dos terrores do islamismo, a saber: de atentados que, segundo as teorias conspiratórias (nas quais eu creio piamente), são praticados por eles mesmos. Vide implosões do WTC, manutenção do crescimento da indústria bélica, indústria do medo (Michel Moore).

6. Simultaneamente, americanos e europeus de países que não suportaram a moeda manifestam seu descontentamento com as instituições que protegem os bancos e deixam a sociedade naufragar.

Minha opinião, Márcio.
KGB.

Eury P Luna-filho disse...

Gostei das informações que vc passa nesse artigo. Fiquei surpreso com a avaliação acerca da Citröen, afinal desde o famoso Sapo, que essa fábrica tem renome internacional afirmado. Possuo um Xsara Picasso 2003, que até hoje só me deu satisfação em quase uma década. Já pensava em trocá-lo por outro, agora C4. Estou perplexo! Dom Marcito, exceto comprar um BMW X1 ou um Audi, o que fazer? Abs.

Arthur Phillipe Pinto e Silva disse...

Caro Márcio,

Bem elaborada a matéria. Mas permita-me discordar, veementemente,dos exemplos lançados.
Nos alto de meus 35 anos de motorista e proprietário, muito já sofri com a má qualidade e desgaste prematuro das marcas que você cita. (Ford, Chevrolet (GM), Fiat, Volks). Ou seja as tradicionais montadoras "brasileiras". Na verdade já estava "acostumado" a esse padrão (de merda) dos carros nacionais, quando adquiri um Peugeot 307, ano 2003, "argentino/mexicano". Pude então vivenciar um outro padrão. Adquiri o carro em 2007, portanto com quase 4 anos. Fui o terceiro dono. O estado do carro era como se fosse de um ano, um semi-novo. O conforto, o nível de ruído, o desempenho, o estado de conservação do interior do veículo, sensacional.
Ora estava acostumado com peças despregando, forro rachando com o sol, painel amarelando. E nada disso acontecia com o meu Peugeot 307 (argentino/mexicano) a esta altura, em 2009, já com mais de 6 (seis) anos de vida. O forro do painel, a despeito de passar todos os dias no sol, continuava intacto até na coloração. Algo jamais imaginável nos "carros nacionais".
Isso tudo me fez raciocinar que o tal "padrão internacional" seria bem superior ao "brasileiro".
Então resolvi partir para o Hyundai, e comprei uma Tucson, zero, ano 2009/2010.
Bem, me decepcionei, um pouco, com o conforto e o nível de ruído, mas logo "realizei" que não poderia esperar muito de tais itens num JIPÃO, como é chamado. (Talvez os modelos de luxo como o VeraCruz , ou pelo menos o Santafé).
Até agora não tive problemas com a qualidade dos materiais (ainda é cedo, pois está completando dois anos agora), mas o desempenho do carro é excepcional. Um carro 2.0 que consegue, se o motorista souber economizar, atingir até 10km/litro, e ao mesmo tempo quando se precisa de desempenho, não deixa você na mão (embora o consumo caia para 7km/Litro.).
A manuteção a princípio era muito caro, mas veio o tabelamento (pena que só um ano depois) de fábrica e resolveu o problema da exploração das concessionárias brasilienses.
Enfim, meu caro. Resumo da ópera, carro "nacional" DEUS ME LIVRE!!